S.O.S! Terra Chamando! – Quem assina o prontuário?
🎵 Abertura 🎵
🎵 Barulho hospital marcador de sinais vitais 🎵
Terra (Georgiana Góes): : Dr., acredita que a enfermeira me disse há pouco que eu estou é ansiosa!
Dr. Cruz (Pablo Aguilar): Ah, mas pode estar mesmo! Tanto tempo na UTI, com essa febre e a falta de ar que não passam… tudo colabora. (Compreensivo)
Terra: Nem sei se é ansiedade ou se já é um luto!
Dr. Cruz: Opa, opa! Cadê a Dona Terra que eu conheço? Você estava, há pouco, falando da sua autonomia. Coragem! (Animando)
Terra: Dr. Cruz, mas esta doença me ataca ferozmente dia após dia. Não tem mental que dê conta! (Brava)
Dr. Cruz: Eu entendo, Terra! Bom, eu passei aqui para saber como está e também para pedir que você assine uma autorização para uma possível necessidade de procedimento invasivo.
Terra: Que procedimento invasivo?
Dr. Cruz: Bem… eh, huum… por exemplo, a intubação!
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen Alves: Desde o início da nossa saga pela saúde da Terra — que é interpretada por Kailani Vinício — nós já a vimos esgotada, desidratada, com falta de ar e, para completar, com febre.
Dr. Cruz: Confirmamos os pulmões em colapso! Tudo por conta do Antropoceno!
Adrielen: O Dr. Cruz, na voz de Pablo Aguilar, tem se esforçado para entender todos os sintomas que mantêm a Terra na UTI. Mas, aqui entre nós, é claro que teme pelo pior! A Terra não é boba, nem nada. Por aqui, ela já esteve confusa, amedrontada, desiludida, enfurecida e, agora, ansiosa.
Será que teria como ser diferente? A Terra, nossa personagem principal, fala que está sendo atacada!
Terra: Eu disse: atacada “ferozzzmente”!
Adrielen: Ops, foi mal: ferozmente! Mas, passando da dramaturgia para a vida real, me diz: quem ataca a Terra? Quem mais sofre com os ataques? E você, no meio disso tudo, como se sente?
Eu sou Adrielen Alves, jornalista de ciência. Este é o episódio sete da primeira temporada do podcast S.O.S! Terra Chamando!, uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen: A Terra enfatizou e eu fui atrás. A palavra “ferozmente”, no dicionário online de português, está relacionada a dois adjetivos: cruel e perverso. Se pensarmos no nosso papo sobre essa época geológica em que a humanidade é dominante, o nosso já velho conhecido Antropoceno é, em muitos momentos, cruel e perverso.
Terra: Ou seja, tenho toda a razão!
Adrielen: É claro que tem! De forma bem resumida: nosso planeta tem enfrentado desmatamento, sufocamento causado pelo efeito estufa e ainda lida com a industrialização a todo o vapor e o esgotamento de recursos não renováveis.
Dr. Cruz: Daí tantas comorbidades!
Adrielen: Bom, mas em resposta, e “na lata” dos humanos: aquecimento global, tormentas seguidas de enchentes, secas históricas, crise hídrica e de alimentos. Para o físico ambientalista britânico James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, a Terra tem, sistematicamente, revidado aos ataques.
Terra: Ferozmente! Aguerrida!
Adrielen: Em artigo publicado no jornal The Guardian, pouco antes de falecer aos 103 anos, o ecologista deixou um recado: “Cuidado! Gaia pode destruir os humanos antes de destruirmos a Terra”. Vamos acompanhar trechos deste artigo na voz de Thiago Regotto:
Thiago Regotto: “Não sei se é tarde demais para a humanidade evitar uma catástrofe climática, mas tenho certeza de que não há chance se continuarmos a tratar o aquecimento global e a destruição da natureza como problemas separados. (…) Meus colegas humanos precisam aprender a viver em parceria com a Terra; caso contrário, o restante da criação, como parte de Gaia, inconscientemente moverá a Terra para um novo estado no qual os humanos podem não ser mais bem-vindos. O vírus da Covid-19 pode muito bem ter sido um feedback negativo. Gaia se esforçará mais na próxima vez com algo ainda mais desagradável.”
Adrielen: Acredito que quando Lovelock se referiu aos “colegas humanos”, o fez de uma forma genérica. Mas é direcionado a todos nós quando ele chama à responsabilidade ecológica — a humanidade sou eu, é você! Essas foram as questões que levei a todos os nossos entrevistados: De quem é a culpa? Quem mais sofre? Quais as consequências? Vamos por partes.
Adrielen: Quem assume a responsabilidade pelas mudanças climáticas? A resposta vem do coração da Amazônia, na voz do seringueiro Manoel Cunha.
Manoel Cunha: “Essa pergunta que você faz é muito interessante. O problema das mudanças climáticas é que ninguém quer se sentir culpado. Os países que estão em desenvolvimento, como o Brasil, acham que não são culpados; culpados são os países ricos que já destruíram tudo para se desenvolver. E nós agora estamos só ‘pagando o pato’. Já os países desenvolvidos acham que é um problema dos países em desenvolvimento. ‘Eles é que estão sofrendo, não sou eu aqui’. Então acaba virando uma doença, um mal, um negócio horrível sem dono. Sempre acha que a culpa é do outro. Isso tem sido muito difícil.”
Adrielen: E não há mais como falar em mudanças climáticas sem fazer relação com política e economia. O modelo socioeconômico neoliberal prega o consumismo, ligado à industrialização e exploração de fósseis. É um ciclo que retroalimenta consequências. Esse modelo deixa os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Daí, por enquanto, os ricos têm mais capacidade de lidar com a crise.
Dr. Cruz: Por enquanto! Porque logo, logo, a chapa vai esquentar para todo mundo!
Adrielen: Falamos da culpa. Mas quem mais sofre? Vamos voltar à Amazônia com o médico infectologista Eugênio Scannavino Netto.
Eugênio Scannavino Netto: “É muito fácil você passar pela mudança climática quando está numa sala de ar-condicionado dando canetada. Você abre a torneira, sai água. Mas se você estiver no meio rural, em uma área de baixa renda, você vai sentir imediatamente esse impacto. Eu acho que os que têm poder de decisão deveriam experimentar um pouco do que o povo, que não governa, experimenta no dia a dia.”
Adrielen: Dr. Eugênio fala sobre Justiça Climática: como o clima afeta a sociedade de formas diferentes, dependendo da condição econômica e da raça.
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen: Vamos lá: Quem é afetado de forma mais duradoura pelas enchentes? Quem mora em bairro de classe alta e pode ir para um hotel, ou quem vive em áreas de desmoronamento e fica até o fim para salvar seus bens? Nas secas, quem se sai melhor? Quem tem ar-condicionado ou quem trabalha de sol a sol e sofre com a falta d’água?
Dr. Cruz: Quem dá a canetada e quem paga o pato?
Adrielen: O termo Justiça Climática vem ganhando espaço porque os eventos extremos são mais cruéis com os mais vulneráveis: pessoas pretas e pobres. É a dobradinha com o Racismo Ambiental. Quem explica é a ativista Jahzara Odá.
Jahzara Odá: “Não tem como falar sobre o enfrentamento ao racismo ambiental sem falar em justiça climática. Aqui temos isso na falta de saneamento, na insegurança alimentar. A violência policial também é uma forma de racismo ambiental. São jovens com medo da chuva, pensando: ‘Vou ficar sem internet, vai alagar minha casa’. Isso traz uma ecoansiedade para essa juventude.”
Terra: Eu ainda não disse por aqui, mas lá vai: está tudo interligado!
Adrielen: E quais as consequências imediatas? A ecoansiedade ou ansiedade climática está entre elas. É o que explica o pesquisador Caio Maximino.
Caio Maximino: “A ansiedade climática é uma preocupação geral com essas mudanças. Essa preocupação com a existência da nossa espécie sempre esteve por aí, mas agora ganhou essa cara porque é o que de fato aparece como mais urgente.”
Adrielen: Vou encerrar com uma reflexão da pesquisadora Dominichi Miranda (Fiocruz).
Dominichi Miranda: “As outras espécies também têm direito de existência. Precisamos de uma aliança entre estudos climáticos e as ciências sociais e humanas, exatamente para podermos contar boas histórias e pensar nessa aliança multiespécies.”
🎵 Sobe Som 🎵
Dr. Cruz: Terra?? Terra??? Atenção, equipe médica! Urgente no quarto 2025! Vamos intubar a Terra!
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
Adrielen: No oitavo episódio: Qual o futuro possível para a Terra?
Este é o S.O.S! Terra Chamando!, o podcast sobre a saúde do planeta. Uma coprodução da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
Eu sou Adrielen, responsável pela idealização, roteiro e apresentação. A pesquisa e a produção são de Anita Lucchesi e Teresa Santos.
A edição de conteúdo é de Julianne Gouveia.
A revisão é de Ana Elisa Santana.
Fazem parte da Comissão Técnico-Científica: Carlos Machado de Freitas, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca; Carlos Henrique Assunção Paiva, Diego Vaz Bevilaqua, Dilene Raimundo do Nascimento e Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz; e Tereza Amorim Costa, do Museu da Vida Fiocruz — unidades da Fundação Oswaldo Cruz.
Os atores são Kailani Vinício e Pablo Aguilar.
Thiago Regotto faz a locução de trecho do artigo do físico James Lovelock.
O apoio à produção em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo ficou por conta de Adriana Ribeiro, Mara Régia e Victor Ribeiro. A operação de áudio é de Álvaro Seixas, Thiago Coelho, Reynaldo Santos, Thales Santos e Reinaldo Shiro.
A edição final e a sonoplastia são da Pipoca Sound.
Este episódio usa áudios do seringueiro Manoel Cunha, do médico infectologista Eugênio Scannavino Netto, da pesquisadora da Fiocruz Dominichi Miranda e do pesquisador da UFPA Caio Maximino.
Até a próxima!
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
🎵 Som de fita voltando 🎵
Beatriz Arcoverde: Também contribuíram na Coordenação de Processos, implementação e publicação nas plataformas: Equipe da Radioagência Nacional – EBC, Interpretação em Libras: Equipe de tradução da EBC, na edição de vídeo para o youtube: Mateus Araújo e o responsável pela arte: Vinícios Espangeiro.
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵
Fonte: Agência Brasil





