Cerca de 66% das pessoas que residem em áreas de risco nas cidades brasileiras são negras. Esse é um dos destaques do relatório “Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática” feito pela ONG Habitat para a Humanidade Brasil. O levantamento foi apresentado durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que acontece em Belém até o próximo dia 21 de novembro.
A ONG chama atenção para um dado ainda pouco debatido pelos países: a relação crise climática versus crise habitacional. Segundo o relatório, somente 8% das metas climáticas apresentadas voluntariamente por cada país tratam da questão urbana, favelas e comunidades; onde a crise climática destrói e danifica moradias e infraestrutura, acentuando a crise habitacional e urbana.
O relatório traz dados de 129 cidades brasileiras e revela que 66,58% da população residente em áreas de risco é negra. No Brasil, são cerca de 2,1 milhões de casas danificadas por desastres climáticos e 107 mil destruídas entre 2013 e 2022, por desastres ambientais. As famílias mais afetadas? As chefiadas por mulheres negras.
A publicação traz uma análise relacionando a desigualdade de moradia à questão climática – principalmente os desastres ambientais, a partir de três dimensões: adaptação, as perdas e danos e a reconstrução quando o cidadão é afetado por desastres socioambientais. Essa reflexão no estudo vem a partir de perguntas simples: Quem ‘escolhe’ morar em área de risco — e por quê? Para onde vai quem não tem pra onde ir? O que tem sido feito para minimizar o impacto do próximo desastre?
Respondendo a terceira questão, o estudo destaca que há a confusão entre adaptação climática e remoções forçadas, que afastam comunidades inteiras de seus territórios e que vem sendo praticada pelos gestores públicos.
Em várias cidades, o poder público tem promovido deslocamentos forçados justificados por questões ambientais, as chamadas “remoções verdes”, sem participação popular e sem transparência. E as soluções de moradia digna e bem localizada ficam cada vez mais longe da realidade das famílias afetadas. Em outros casos, as falhas nas respostas emergenciais, com famílias voltando a áreas de risco por falta de políticas efetivas.
O relatório completo está disponível na página habitatbrasil.org.br
Fonte: Agência Brasil







